terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que aprendi em um dia conversando com centenas de pessoas sobre veganismo

por Rodrigo Nery

Domingo vivi uma experiência incrível: fui à rua para um protesto de conscientização da população sobre veganismo junto à ONG Vanguarda Abolicionista.

Com alguns panfletos em mãos, eu abordava as pessoas que já estavam paradas tentando decifrar o significado da vaca, dentro de um caixão, sendo velada. Ouvi cochichos que iam de “Mas que coisa de mal gosto” até “Papai, isso é de verdade?”.

Conversei com senhorinhas de cabelos grisalhos, dono de frigorífico, vegetarianos, gaudérios pilchados, crianças, famílias inteiras e um homem em especial, cuja sua autodefinição foi: “sou espécie rara: carnívoro e hétero”.

Tirando casos de estupidez, entendo que o assunto do veganismo pode despertar desconfiança nas pessoas, deixando-as na defensiva. Como em um levantar de escudos, ouvi repetidamente todos os jargões em defesa à carne que eu mesmo um dia repeti.
E se você, que está lendo isso, justifica seu consumo de carne com algum dos motivos abaixo, é provável que você também esteja na defensiva.

/ O homem só evoluiu por causa da carne / As plantas também sentem dor / Fonte de proteína / Topo da cadeia alimentar / Os leões também matam / A natureza é assim / Está na bíblia / Essa é a função dos bichos / Evitar superpopulação de vacas / É tradição / A carne é minha, eu comprei / Cresci matando galinha / Conheço um pequeno produtor que ama os animais / Não comer carne é radical /

Como disse, eu também repetia essas palavras. Conheço bem este lado. Até porque, a maioria de nós não nasce vegano. Somos trazidos a um mundo que ignora o holocausto diário que fazemos a milhões de animais em troca de 10 minutos de prazer ao prato. Um sapato estiloso. Um show de adestramento.

O único argumento que esperava ouvir neste dia, e que aceitaria com direito a aperto de mãos, é "eu gosto de carne, fodam-se os animais”. Mas a este nível de objetividade, ninguém chegou.

Mas porque alguns ficam na defensiva?

A resposta é óbvia. Sabemos que carne é, inevitavelmente, morte. Uma ovelha pode ter sessões de yoga e fazer 6 refeições por dia. Isso não interfere no fato de que, ainda sim, ela será degolada. E a morte de um animal não é menor do que a morte de um humano. Uma faca no pescoço dela queima exatamente na mesma intensidade do que no nosso. Quando analisamos no nível da dor, agonia, preferência à vida e ao prazer, nós somos todos iguais.

Em contrapartida, o veganismo apresenta-se como paz. Paz absoluta para com os animais, sejam eles os sortudos animais pet ou os azarados animais comida.

Veganismo nunca poderá ser radical. Abraçar uma vaca não é radical. Queima-la com ferro quente, sim. Brincar com um coelho não é radical. Arrancar sua pele, sim.

Ao final do dia, fui recompensado em conhecer pessoas que decidiram salvar vidas, dispostas a mudar alguns poucos hábitos de consumo do seu dia a dia para se alinhar a uma postura ética correta.

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